O século XXI está sendo marcado pelo hiperconsumismo, um estilo de vida
onde consumir deixou de ser apenas uma necessidade e passou a ser uma busca
incessante por prazer, status e significado. A facilidade e rapidez cada vez
maiores de compra, os lançamentos incessantes e os preços absurdamente baixos são
reflexos de um momento na sociedade que incentiva o consumo a todo instante, como
forma não mais de ter algo útil e durável por necessidade, mas de suprir
desejos emocionais e preencher lacunas internas. Mas porque, mesmo após
adquirirmos o último lançamento, ainda sentimos um vazio profundo?
O Hiperconsumismo
O consumo deixou de ser apenas um meio para atender às nossas
necessidades básicas e se transformou em uma ferramenta de expressão pessoal e
indicativo do padrão de vida que desejamos mostrar (não necessariamente o que
possuímos). Compramos não apenas pelo produto em si, mas pela promessa de
status, felicidade e pertencimento que ele carrega. Um smartphone de última
geração não é apenas um dispositivo eletrônico, é um símbolo de modernidade e
conexão. Uma roupa de marca não é apenas tecido, é uma afirmação de estilo e
identidade e o quanto de dinheiro você possui a sua disposição.
Entretanto, essa busca constante por novas aquisições tem se tornado um problema
de saúde mental. O prazer momentâneo da compra é frequentemente seguido por uma
sensação de vazio, levando à necessidade de consumir novamente para tentar
preenchê-lo. E isso vem além de desviar a nossa atenção para o que realmente
importa em nossa, está esgotando recursos naturais e acelerando a degradação da
natureza em níveis alarmantes.
O Vazio Existencial
Por trás do desejo incessante de consumir, muitas vezes se esconde um
vazio existencial. Esse vazio pode ser descrito como uma sensação de falta de
propósito ou significado na vida. Em uma sociedade onde somos constantemente
bombardeados por mensagens de que "ter é ser", é comum que as pessoas
tentem preencher esse vazio erroneamente com bens materiais.
No entanto, o vazio existencial não pode ser preenchido por coisas
externas. Ele é um chamado interno para que possamos refletir sobre nossas
escolhas, valores e relações. O consumo desenfreado pode mascarar
temporariamente essa sensação, mas não é capaz de resolvê-la e em médio prazo,
traz muito mais malefícios do que benefícios.
Vou propor a seguinte reflexão: quantos
itens você comprou nos últimos meses que de fato foram por necessidade? Quantos
deles, você comprou por vontade ou desejo? Quais desses itens você de fato
sente que foi um excelente investimento?
São perguntas que geralmente não fazemos no dia a dia, justamente pela forma
muito agressiva que estamos recebendo propagandas. Até pouco tempo atrás, precisávamos
estar na frente da tv, ler um jornal/revista ou sair para grandes centros
comerciais para termos contato com publicidade. Atualmente, recebemos esse
estímulo literalmente a todo minuto!
Parece que estamos perdendo a divisão do que é ser e do que é consumir e
isso particularmente me deixa apreensiva.
Como Quebrar o Ciclo
Romper com o ciclo do hiperconsumismo e do vazio existencial é um
processo que exige consciência e autoconhecimento. Algumas estratégias podem
ajudar:
- Prática
da gratidão: Reconhecer o que já temos e valorizar as
pequenas coisas pode nos ajudar a reduzir a necessidade de sempre querer
mais.
- Consumo
consciente: Antes de realizar uma compra, questione-se:
"Eu realmente preciso disso?" ou "Isso está alinhado com
meus valores?"
- Autoconhecimento:
Buscar compreender o que realmente nos motiva e o que nos traz significado
é fundamental. Terapia ou práticas reflexivas, como meditação e escrita,
podem ser muito úteis.
- Cultivo
de relações autênticas: As conexões humanas genuínas são uma das
formas mais eficazes de encontrar significado e pertencimento.
- Redefinir
o conceito de sucesso: Substituir a ideia de que sucesso está
ligado a bens materiais por uma visão mais ampla, que inclua bem-estar,
conexões emocionais e realizações pessoais.
Conclusão
O hiperconsumismo é um sintoma de uma sociedade desconectada de seus
valores essenciais e de sua própria humanidade. Quando compreendemos que o
vazio existencial não pode ser preenchido por coisas, damos um passo importante
rumo a uma vida mais plena e significativa. A verdadeira satisfação não está
nas vitrines, mas em nossas escolhas, relações e no sentido que atribuímos à
nossa existência. Você não é a marca ou produto que consome, mas um ser em
processo evoluído durante essa existência.
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