A perda de alguém querido é uma das experiências mais difíceis e profundas que podemos enfrentar na vida. Durante esse processo de luto, é esperado e (até saudável) que sentimentos intensos de tristeza e dor se manifestem.
Entretanto, para muitas pessoas, esses sentimentos podem evoluir para um quadro de depressão, o que adiciona camadas de complexidade emocional a essa jornada já tão difícil. É sobre isso, que o filme The Babadook, dirigido por Jennifer Kent explora em formato de terror.
Falarei sobre a minha visão do filme e como ele se relaciona luto com a depressão! Mas antes..
O que é depressão durante o processo de luto?
A depressão durante o luto é uma condição emocional complexa que pode ocorrer como resposta à perda significativa de um ente querido. Embora o luto seja um processo natural de adaptação à perda, a depressão pode se desenvolver quando sentimentos de tristeza, desesperança e vazio se prolongam por um período prolongado e interferem significativamente na capacidade da pessoa de funcionar no dia a dia. É válido lembrar que não existe até o momento, um prazo máximo aceitável para o processo de luto, mas é importante frisar que enlutados que se fixam muito na perda, tem muito mais probabilidade de desenvolver quadros mais graves de transtornos emocionais relacionados ao luto e quanto mais tempo, mais o perigo de agravamento.
Sinais e sintomas comuns
Os sinais de depressão durante o luto podem se sobrepor aos sintomas típicos de luto, mas tendem a ser mais intensos e persistentes. Eles incluem:
- Tristeza profunda e prolongada
- Sentimentos de desesperança ou vazio
- Perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas
- Mudanças significativas no apetite e no peso
- Insônia ou excesso de sono
- Fadiga constante ou falta de energia
- Sentimentos de culpa ou arrependimento
- Dificuldade de concentração e tomada de decisões
- Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio
Fatores de risco e análise do filme
Vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento da depressão durante o luto, como a proximidade emocional com a pessoa falecida, circunstâncias da morte, histórico pessoal ou familiar de transtornos mentais, falta de suporte social e recursos limitados para enfrentar a perda.
Na trama, acompanhamos a protagonista Amélia lidando com a maternidade enquanto enfrenta o luto pela morte de seu marido. Ao longo do filme, percebemos que o monstro que a assombra, pode ser analisado como os sentimentos ligados à depressão que ela vai desenvolvendo e que, ao tentar fugir dele, o monstro se fortalece.
É interessante a alegoria que o filme traz para dizer de forma lírica o quão prejudicial pode ser tentar suprimir sentimentos "ruins", ainda mais depois de uma perda tão dificil e que impacta diretamente na rotina da protagonista e é até motor principal para a mudança de comportamento que ela passa a ter com o seu filho durante a história.
É somente no final do longa que ela consegue elaborar melhor sua dor e com isso, o Babadook perde força, mesmo ainda presente na vida dela. Ou seja, a medida que vamos aceitando a perda e procurando formas de expressá-las, encontramos forças para suportá-la! É esse o caminho que também encontramos na terapia, ao expor toda a dor do luto, o quanto a pessoa foi sigificativa, vamos criando novos sentidos para aquela perda e passamos a suportarmos momentos de falta, com recursos mais adaptativos.
O filme consegue coversar principalmente com o público feminino, pois consegue trazer de uma forma bem interssante, o quanto as mulheres ainda se colocam (e são colocadas) sempre no lugar de quem cuida e nunca no lugar de quem é cuidado, o que faz com que não raras vezes, as mulheres acabem reprimindo ainda mais sentimentos ligados ao luto. No próprio filme, vemos passagens onde mostra Amélia precisando lidar com o julgamento das pessoas, mas nunca com uma aproximação de ajuda.
A depressão durante o processo de luto é uma resposta compreensível e complexa à perda significativa. É importante lembrar que não há um cronograma definido para o luto e que cada pessoa vive esse processo de maneira única. Buscar apoio emocional e profissional é fundamental para navegar por essa fase desafiadora com compaixão e autocuidado. Compreender e reconhecer a depressão durante o luto é um passo crucial para garantir que aqueles que estão sofrendo recebam o suporte necessário para se recuperar emocionalmente e encontrar um novo equilíbrio na vida após a perda.
Este artigo teve como objetivo oferecer um olhar para entender e lidar com a depressão durante o processo de luto. Sua leitura não substitui o acompanhamento médico adequado com um profissional capacitado.
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